TROVADORISMO: CANTIGAS
Cantiga De Amor
Quantos an gran
coita d’amor
eno
mundo, qual og’ eu ei,
querrian
morrer, eu o sei,
o
averrian én sabor.
Mais
mentr’ eu vos vir’, mia senhor,
sempre
m’eu querria viver,
e
atender e atender!
Pero
já non posso guarir,
ca
ja cegan os olhos meus
por
vos, e non me val i Deus
nen
vos; mais por vos non mentir,
enquant’
eu vos, mia senhor, vir’,
sempre
m’eu querria viver,
e
atender e atender!
E
tenho que fazen ma-sen
quantos
d’amor coitados son
de
querer as morte, se non
ouveron
nunca d’amor ben
com’eu
faç’. E, senhor, por én
sempre
m’eu querria viver,
e
atender e atender!
Tradução:
Quantos
o amor faz padecer
penas
que tenho padecido
querem
morrer e não duvido
que
alegremente queiram morrer.
Porém
enquanto vos puder ver,
vivendo
assim eu quero estar
e
esperar, e esperar.
Sei
que a sofrer estou condenado
e
por vós cegam os olhos meus.
Não
me acudis; nem vós, nem Deus
Mas,
se sabendo-me abandonado,
ver-vos,
senhora, me for dado.
vivendo
assim eu quero estar
e
esperar, e esperar.
Esses
que veem tristemente
desamparada
sua paixão
querendo
morrer, loucos estão.
Minha
fortuna não é diferente;
Porém
eu digo constantemente:
Vivendo
assim eu quero estar
e esperar e esperar.
Cantiga De Amor
Ai flores, ai
flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai
flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas
do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas
do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
Vós me
preguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me
preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos
digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos
digo que é viv'e sano
e será vosco ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?Cantiga De Amor
e será vosco ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?Cantiga De Amor
Ai flores, ai
flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Cantiga
de escárnio
Ai
dona fea, fostes-vos queixar
que
vos nunca louv'en[o] meu
cantar;
mais
ora quero fazer um cantar
em
que vos loarei todavia;
e
vedes como vos quero loar:
dona
fea, velha e sandia!
Dona
fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam
gram coraçom
que
vos eu loe, em esta razom
vos
quero já loar todavia;
e
vedes qual será a loaçom:
dona
fea, velha e sandia!
Dona
fea, nunca vos eu loei
em
meu trobar, pero muito trobei;
mais
ora já um bom cantar farei
em
que vos loarei todavia;
e
direi-vos como vos loarei:
dona
fea, velha e sandia!
João
Garcia de Guilhade
Tradução:
Ai, dona
feia, foste-vos queixar
que nunca
vos louvo em meu cantar;
mas agora
quero fazer um cantar
em que vos
louvares de qualquer modo;
e vede como
quero vos louvar
dona feia,
velha e maluca!
Dona
feia,que Deus me
perdoe,
pois tendes
tão grande desejo
de que eu
vos louve,
por este
motivo quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual
será a
louvação:
dona feia,
velha e maluca!
Dona feia,
eu nunca vos louvei
em meu
trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já
farei um bom cantar;
em que vos
louvarei de qualquer modo;
e vos direi
como vos louvarei:
dona feia,
velha e maluca!
Cantiga De Mal-Dizer
Maria Pérez se maenfestou
noutro dia, ca por [mui] pecador
se sentiu, e log'a Nostro Senhor
pormeteu, polo mal em que andou,
que tevess'um clérig'a seu poder,
polos pecados que lhi faz fazer
o Demo, com que x'ela sempr'andou.
Maenfestou-se ca diz que s'achou
pecador muit', e por en rogador
foi log'a Deus, ca teve por melhor
de guardar a El ca o que a guardou;
e mentre viva, diz que quer teer
um clérigo com que se defender
possa do Demo, que sempre guardou.
E pois que bem seus pecados catou,
de sa mort'houv'ela gram pavor
e d'esmolnar houv'ela gram sabor;
e log'entom um clérigo filhou
e deu-lh'a cama em que sol jazer,
e diz que o terrá, mentre viver;
e est'afã todo por Deus filhou.
E pois que s'este preito começou
antr'eles ambos houve grand'amor
antr'ela sempr'[e] o Demo maior,
atá que se Balteira confessou;
mais, pois que vio o clérigo caer
antr'eles ambos, houv'i a perder
o Demo, des que s'ela confessou.
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